Reposição hormonal: ciência, segurança e proteção para o coração da mulher

A menopausa marca uma transição profunda no corpo da mulher — não apenas do ponto de vista reprodutivo, mas também cardiovascular. A queda dos hormônios sexuais femininos, especialmente o estrogênio, provoca mudanças significativas no metabolismo, na inflamação sistêmica e na saúde vascular. Esses fatores aumentam o risco de infarto, AVC, hipertensão arterial, dislipidemias e resistência à insulina. Por isso, a terapia de reposição hormonal (TRH) deve ser vista não como um tabu ou um luxo, mas como uma estratégia clínica relevante na proteção da saúde global da mulher.

A origem do medo: o caso WHI

Durante muitos anos, a TRH foi envolta em controvérsias. O estudo Women’s Health Initiative (WHI), nos anos 2000, apontou um possível aumento de risco cardiovascular e de câncer de mama em mulheres que faziam uso de terapia hormonal. No entanto, análises posteriores revelaram um dado essencial: os riscos estavam concentrados em mulheres com mais de 60 anos, com comorbidades preexistentes, e que iniciaram a reposição muitos anos após a menopausa.
Hoje, diretrizes como as da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) reconhecem que, quando iniciada até 10 anos após a menopausa, a TRH pode não apenas ser segura, mas também protetora do sistema cardiovascular.

Estrogênio: aliado da função vascular

O estrogênio tem uma função protetora sobre o endotélio, promovendo a produção de óxido nítrico e vasodilatação. Ele melhora o perfil lipídico, reduz inflamação e protege contra a progressão da aterosclerose. Quando indicado, o estrogênio transdérmico (via adesivo ou gel) apresenta menor risco de trombose em comparação com a via oral.
Por isso, a individualização da via de administração é tão importante, principalmente em mulheres com histórico pessoal ou familiar de eventos trombóticos.

Progesterona: mais do que uma coadjuvante

Nas mulheres com útero, a reposição de estrogênio deve ser associada à progesterona, para evitar hiperplasia endometrial. No entanto, a progesterona natural micronizada tem um papel próprio: atua de forma mais segura que progestágenos sintéticos, tem menor impacto no colesterol, menos efeito sobre a pressão arterial, e ainda pode ajudar no sono, na ansiedade e nos sintomas neurovasomotores.

Testosterona: também é hormônio feminino

A testosterona, embora mais conhecida por sua atuação nos homens, também exerce papel importante na saúde feminina. Seus níveis caem com o passar dos anos, e a reposição pode ser indicada em casos específicos, como desejo sexual hipoativo, desde que confirmada laboratorialmente.
Além de melhorar a libido e a energia, a testosterona pode auxiliar na composição corporal e em marcadores metabólicos, mas sempre com controle rigoroso de dosagens.

A personalização é a regra

Cada mulher tem sua história, seu corpo, suas necessidades e riscos. Não existe reposição padrão. A decisão deve considerar fatores como:
  • idade e tempo de menopausa
  • sintomas relatados
  • risco cardiovascular individual
  • histórico oncológico e ginecológico
  • exames laboratoriais e de imagem
  • estilo de vida e preferências
A escolha do tipo e da via de administração hormonal deve ser feita com acompanhamento médico qualificado, baseado em critérios científicos e éticos.

Mitos e verdades

A TRH não é fonte de juventude nem vilã da saúde. Ela é uma ferramenta — e como toda ferramenta médica, deve ser usada com responsabilidade. O tempo de uso, os ajustes ao longo dos anos e as reavaliações clínicas são parte essencial da jornada.
É fundamental também combater a disseminação de medos infundados, que muitas vezes afastam mulheres de uma oportunidade real de qualidade de vida. O médico, nesse cenário, tem papel-chave: acolher, esclarecer, monitorar e orientar.

A mulher que se informa vive melhor

Com o avanço da medicina, a mulher que entra na menopausa hoje não precisa aceitar o sofrimento como regra. Ondas de calor, insônia, ganho de peso, queda de libido, perda de energia e oscilações emocionais podem ser tratados com segurança. E mais: o coração, o maior símbolo da vida, pode ser preservado com inteligência médica.
A reposição hormonal bem indicada não é uma questão de estética, mas de saúde. Com base na ciência, ela ajuda a mulher a atravessar essa fase com dignidade, vitalidade e liberdade.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nosso site utiliza cookies para personalizar o conteúdo e para que você tenha uma melhor experiência ao navegar.